terça-feira, julho 17, 2007

Silêncio


“Apenas as palavras quebram o silêncio, todos os outros sons cessaram. Se eu estivesse em silêncio, não ouviria nada. Mas se eu me mantivesse silêncioso, os outros sons recomeçariam, aqueles a que as palavras me tornaram surdo, ou que realmente cessarem. Mas estou silencioso, por vezes acontece, não, nunca, nem um segundo. Também choro sem interrupção. É um fluxo incessante de palavras e lágrimas. Sem pausa para reflexão. Mas falo mais baixo, cada ano um pouco mais baixo. Talvez. Talvez mais lentamente, cada ano um pouco mais lentamente. Talvez. É me difícil avaliar. Se assim fosse, as pausas seriam mais longas, entre as palavras, as frases, as sílabas, as lágrimas, confundo-as, palavras lágrimas, as minhas palavras são as minhas lágrimas, os meus olhos a minha boca. E eu deveria ouvir, em cada pequena pausa, se é o silêncio que eu digo quando digo que apenas as palavras o quebram. Mas nada disso, não é assim que acontece, é sempre o mesmo murmúrio, fluindo ininterruptamente, como uma palavra infindável e, por isso, sem significado, porque é o fim que confere o significado às palavras.”
Samuel Beckett, Textos para Nada

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